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quinta-feira, 5 de março de 2020

A NOITE DO CÃO


Foi no final da década de setenta, durante uma madrugada gélida (fato comum aqui no Rio Grande do Sul), que esse fato ocorreu comigo, e me marcou muito! Na época eu era funcionário do Estado e algumas vezes permanecia trabalhando durante a noite inteira. Numa dessas noites, um colega que havia terminado sua jornada solicitou uma carona até em casa. Ele residia num bairro distante do local onde ficava localizada a repartição. Quando retornei já era madrugada alta, e fui colocar o veículo em um estacionamento onde os lugares eram demarcados. O tal estacionamento ficava localizado num vasto terreno circundado por uma cerca de zinco. Internamente ele possuía como divisor físico um tapume de madeira, separando assim as duas áreas, o estacionamento (onde eu estava) e uma outra utilizada para serviços diversos. O tapume de madeira não cobria todo o espaço, ficando a uns trinta centímetros do solo, assim, quem estivesse no estacionamento poderia ver os pés de quem estava no outro lado e vice e versa. Então entrei com o carro, desliguei o motor e desci. Tão logo iniciei o meu caminho até a saída, senti nitidamente que estava sendo observado. Na parte que eu havia deixado o carro a lâmpada do poste estava queimada, sendo que era necessário avançar mais trinta metros para atingir uma outra parte iluminada do terreno. Instintivamente olhei para o tapume divisório, percebendo que alguém caminhava no mesmo sentido que eu, porém do lado oposto. Estranhei a "companhia", pelo certo não deveria haver ninguém na área desativada pelo horário tardio. Intrigado e já ficando nervoso, diminui a minha passada, esperando que o visitante cruzasse pelo poste iluminado antes de mim, para que eu pudesse saber "de quem se tratava". Quando estanquei a passada "ele" estancou também do outro lado. Reiniciei a andar, mas confesso que agora já estava ficando perturbado pelo acompanhamento anônimo. Na parte central do estacionamento o tapume sofria uma falha de continuidade. Casualmente nesse vão existente, a iluminação era razoavelmente boa, e ali certamente eu veria o intruso de corpo inteiro. Conforme fomos "nos" aproximando da luz, percebi de relance (eu não voltava a cabeça diretamente, apenas espiava, pois "ele" tinha o cuidado de caminhar dois passos atrás, ou seja, nunca ficamos lado a lado, pois parecia me espreitar) que não eram pés humanos e sim patas de um animal canino. Estranhei o comportamento daquele bicho, parecia racional demais, não se apresentava em minha frente nunca, caminhava silenciosamente, se ocultando nas sombras e quase no mesmo ritmo do meu passo. Finalmente cheguei no ponto mais iluminado onde existia o vão no tapume. Virei o pescoço e fiquei aguardando "ele" surgir. A primeira coisa que vi realmente foram dois olhos vermelhos faiscantes em minha direção. Sei que os olhos dos caninos e felinos brilham na noite, mas "aqueles" brilhavam com uma intensidade perturbadora. Senti um frio correr pela espinha e uma sensação desconfortável de medo. Era um cão incrivelmente negro, grande sem ser descomunal, e os olhos faiscantes ficavam "colados" em mim o tempo inteiro, parecia adivinhar meus pensamentos. Ficou me acompanhando pelo outro lado do tapume (uns cinco metros) e mesmo com o vão existente que possibilitava a entrada dele no estacionamento ele não o fez, e continuou "me escoltando" sempre alguns passos atrás, e quando eu olhava em sua direção eu ficava ofuscado pelo intenso brilho daqueles olhos impressionantes. Mesmo quando saí do estacionamento e atravessei uma rua em direção do meu local de trabalho não tive coragem de olhar para trás, pois "sentia" ainda seus olhos sobre mim. Depois daquela noite, fiquei pensando sobre o caso, e lembrei que naquelas cercanias não havia residência alguma, pois eu conhecia bem aquela região. De onde teria surgido e o que na verdade seria aquele cão negro de comportamento tão intrigante que me acompanhou e me observou por todo o meu trajeto? Sei que jamais saberei, mas aprendi que neste mundo nunca realmente estamos sós. www.alemdaimaginacao.com Newton Nascimento Porto Alegre - RS - Brasil Contato: assombracoes@gmail.com